por
Felipe Leal e Charbel Niño El-Hani
(Grupo de Pesquisa em História, Filosofia e Ensino de Ciências
Biológicas, IB-UFBA)
Até meados do século XIX, a maior parte das pessoas via tanto os humanos como os chimpanzés como seres que mantinham, sem qualquer mudança, as formas como as quais haviam surgido. E essas formas seriam mantidas para sempre. Essa visão era de um mundo na qual a permanência era a regra daí veio o termo “fixismo”, que em termos gerais acreditavam no surgimento de espécies imutáveis.
Outra visão de mundo, que começou a mostrar suas raízes no mundo ocidental moderno em meados do século XVIII, vinha de contra ao Fixismo. Essa visão defendia o papel central das mudanças no mundo natural: o “evolucionismo” ou “transformismo”. A idéia básica do evolucionismo, seja aplicado aos astros siderais, às formas do relevo ou aos seres vivos, é a de que o estado natural de todas as coisas que existem no mundo é a mudança.
A evolução – a modificação das espécies ao longo do tempo – propõe que os seres vivos não são imutáveis: aqueles que são vistos atualmente nem sempre existiram, nem sempre tiveram a mesma forma e nem sempre existirão. Conseqüentemente, o conjunto de seres vivos presentes na Terra se alteraria ao longo do tempo. Desde o século XVIII, diversas teorias de evolução biológica vêm sendo discutidas, dentre elas, as de Buffon e Lamarck.
Buffon (1707 – 1788) propôs que as espécies se transformavam de um modo limitado. Ele acreditava que cada espécie tinha um “molde interno”, que determinava sua forma. Seu trabalho não deixava muito claro como esse molde funcionava, mas o argumento era de que ele preservava a forma das espécies de uma geração para outra.
Com essa teoria, Buffon havia esbarrado em idéias evolutivas. Sua proposta apresentava limitações, visto que se sabia pouco dos seres vivos na época.
Cerca de cinqüenta anos depois de Buffon, outro naturalista francês conhecido como Lamarck (1744 – 1829) propôs uma teoria evolutiva bem diferente. Onde o processo evolutivo, consistia em uma escalada de complexidade, ou seja, os seres vivos mais primitivos – originados por geração espontânea – eram transformados gradualmente e se tornando cada vez mais complexos.
Diferentemente de Buffon, Lamarck não acreditava que as formas de vida complexas pudessem surgir por geração espontânea. Um dos motivos pelo qual se tornou um evolucionista foi a aceitação da idéia de geração espontânea em formas de vida mais simples.
Se Lamarck estivesse certo, e a transformação das espécies resultasse apenas em uma maior complexidade, como explicar a existência de muitos seres vivos pouco complexos? Por que eles teriam “parado” naquele estagio inicial? A resposta de Lamarck dependia da geração espontânea, que deveria estar sempre ocorrendo.
Em 1858, cerca de cinqüenta anos depois da publicação da obra mais importante de Lamarck, Filosofia zoológica, foram apresentados em Londres, dois trabalhos que tinham uma nova teoria evolutiva, de autoria de Charles Darwin (1809 – 1882) e Alfred Russell Wallace (1823 – 1913). O conteúdo do trabalho foi publicado na forma de um livro, A Origem das Espécies, em 1859 e teve enormes efeitos sobre a maneira como nossa espécie entende a si mesma e ao mundo ao seu redor.
A importância desse livro decorre de dois processos principais. Primeiro, Darwin argumentou que a transformação das espécies ocorria de um modo muito diferente daquele proposto por Buffon, Lamarck e outros evolucionistas anteriores. Uma das inovações de Darwin foi a idéia de que a evolução não é um processo linear, mas um processo de divergência a partir de ancestrais comuns. Duas espécies semelhantes seriam descendentes de uma única espécie que teria existido no passado e nisso vemos como exemplo o homem e os chimpanzés.
A segunda idéia central do trabalho de Darwin é uma teoria sobre o processo que causa as mudanças evolutivas, que foi descoberta independentemente por Wallace. Esse processo é chamado de seleção natural.
A partir da década de 1870, a idéia de evolução não gerou problemas na comunidade científica. No caso da outra grande contribuição de Darwin, a teoria da seleção natural, a história foi bastante conturbada. Para muitos cientistas, restavam duvidas sobre o papel da seleção natural. Dois problemas eram particularmente sérios: a ausência de um mecanismo convincente de herança e a aparente falta de direção do processo evolutivo, conforme proposto por Darwin.
O ressurgimento do darwinismo veio a partir de uma fusão de seu conteúdo com o mendelismo. Três pesquisadores tiveram papel fundamental na história inicial dessa área: Ronald Aylmer Fisher (1890 – 1962); John B. S. Haldane (1892 – 1964) e Sewall Wright (1889 – 1988). Fisher aplicou uma serie de técnicas matemáticas no estudo dos efeitos da seleção sobre populações apresentando variações genéticas. Haldane apresentou exemplos concretos que demonstravam que a seleção natural poderia ter efeitos mais rápidos na população do que Fisher pensara. Wright considerou o papel das interações gênicas como fonte adicional de variabilidade em pequenas populações com elevadas taxas de cruzamento entre parentes.
Em conjunto, Fisher, Haldane e Wright demonstraram que a variação estudada por evolucionistas poderia ser explicada pela herança mendeliana e pela seleção natural. Essa visão marca o inicio de um novo período do pensamento evolutivo, chamado de neodarwinismo.
Fontes:
• MEYER, Diogo e EL-HANI, Charbel Niño. 2005. Evolução o Sentido da Biologia. São Paulo: Ed. UNESP, Coleção Paradidáticos, 132p. |